domingo, 25 de julho de 2010

Carta de Itabuna (Documento Final da Semana da Cidadania)

Ao celebramos o centenário da nossa cidade, a Diocese de Itabuna, realizou a Semana Diocesana da Cidadania, trazendo-nos uma serie de indagações e também muitas luzes.

As indagações já se deram na abertura da Semana, quando Dom Dimas Lara Barbosa, Secretário Geral da CNBB, nos questionava: “Que tipo de “solo” temos sido para acolher a palavra de Deus?”, “Que tipo de “semeador” temos sido?”, Mas, sobretudo, nos perguntava: “Que tipo de sementes temos semeado no meio do povo?“.

Estas mesmas indagações servem para nos questionar em outros campos: Será que a dramática reiteração incontida da violência, contribui para anestesiar a nossa sensibilidade e camuflar sua presença? Infelizmente aqui na região, parece que sim. Já se vai algum tempo em que ela, a violência, “acampou” por aqui e não quer nos deixar. Todos os dias ceifam vidas e mais vidas, e o mais cruel, na sua grande maioria de jovens, envolvidos com a nova praga do mundo do crak.

E aqui a violência não se dá só contra o ser humano, mas também contra o meio ambiente. O nosso Rio Cachoeira, antes caudaloso e gerador de renda para os pescadores, lavadeiras, hoje fonte de doenças, esquecido e mal tratado, é o retrato vivo da violência ambiental em nossa Cidade.

Durante as realizações dos eventos da Semana da Cidadania (Mesas Redondas, Palestras, Vídeos, Apresentações teatrais,Campanhas, entre outros) pudemos perceber diversos tipos de violências, presentes em nossa Cidade, entre elas as da exclusão, da segregação e da marginalização, as agressões ambientais. Assim como se fala em violência simbólica, em violência sutil, creio não ser abusivo falar-se também em violência cultural. O que nos fez descobrir também a enorme necessidade de travarmos uma luta contínua contra todas estas formas de violência, a desenvolvermos ações conjuntas: Igrejas, Poderes Públicos, Instituições da Sociedade Civil Organizada, Movimentos Populares, buscando efetivar e garantir os direitos dos cidadãos e, sobretudo, buscando a preservação da Vida em primeiro lugar e tornar a realidade as palavras de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo.10,10).

Percebemos também que construir cidadania é construir novas relações e consciências. A cidadania é algo que não se aprende apenas nos livros mas, sobretudo, com a convivência, na vida social e pública. É no convívio do dia-a-dia que exercitamos a nossa cidadania, através das relações que estabelecemos com os outros, com a coisa pública e com o próprio meio ambiente. É necessário que o cidadão participe, seja ativo, faça valer os seus direitos e cumpra os seus deveres. A cidadania deve ser perpassada por temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética.

A aplicação de políticas públicas verdadeiramente voltadas ao atendimento das necessidades da população, a união de forças em busca de soluções concretas que venham a combater a violência, um projeto de desenvolvimento que não seja “excludente”, mas sim, que respeite o meio ambiente e valorize o ser humano, a garantia dos direitos constitucionais dos cidadãos , o respeito às diferenças, o exercício e o cumprimento dos nossos deveres, são algumas “sementes” que precisamos garantir e semear no meio do povo.

Parabéns, Itabuna pelos seus 100 anos, pelos seus passos e vitórias já alcançadas! Mas não devemos esquecer que a cidadania é tarefa que não termina. Que possamos a partir do seu Centenário estabelecer um novo paradigma de caminhada, de relações entre os seres humanos, entre os seres humanos e o meio ambiente, de desenvolvimento e progresso que “inclua” em vez de excluir e, assim , possamos construir uma nova, justa e fraterna sociedade possível.


Itabuna, 24 de julho de 2010

Diocese de Itabuna