segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A PRESENÇA DO FREI JOSÉ RAIMUNDO NO BAIRRO AMÉRICA.

O Bairro América, na cidade de Aracajú/SE sempre teve sua imagem associada ao estigma de bairro violento, por conta da presença da Penitenciária e dos altos índices de criminalidade ali presentes. Exemplos disto são os apelidos que o bairro possuía: Bairro de Cão, Baixada Fluminense, etc.

Neste contexto, poucos meses após assumir como vigário na Paróquia São Judas Tadeu, frei José Raimundo de Oliveira, frade capuchinho, nascido em Santa Luzia (BA), juntamente com algumas autoridades policiais, conseguiram junto ao Governo do Estado a implantação de um Posto de Atendimento ao Cidadão (PAC)3 no Bairro América. O posto foi instalado em 28 de fevereiro de 1996, num compartimento da própria Igreja São Judas Tadeu. Seu objetivo era, a partir da filosofia do Policiamento Comunitário, encurtar as distâncias entre os policiais e os locais das ocorrências.

As iniciativas do frei Raimundo para conscientizar a população do seu papel como parceira da polícia foram constantes. Em seus polêmicos sermões, o frade constantemente conclamava seus paroquianos a colaborar com o trabalho dos policiais. A comunidade respondeu positivamente aos apelos e após a implantação do posto chegou-se ao marco de 550 dias sem homicídios no bairro. A partir do “Posto Embrião” instalado no Bairro América em 29 de fevereiro de 1996 diversos outros se espalharam pela capital. Para dar suporte ao trabalho dos policiais havia o CONSEB, o Conselho de Segurança do Bairro formado por moradores locais. O próprio frei Raimundo chegou a ser presidente do conselho, o que evidencia seu engajamento na luta por segurança no bairro.

Em março de 1998 o pároco recebeu a medalha do mérito militar em solenidade presidida pelo secretário de segurança pública, pelas iniciativas em favor da implantação e manutenção da Polícia Comunitária. Em 30 de julho de 1998 foi celebrada uma missa solene em comemoração pelo marco de 500 dias sem homicídios no bairro. Estavam presentes o governador do Estado, o secretário de segurança e o comandante geral da Polícia Militar, o que denota a influência que o vigário possuía junto às autoridades do Estado.

Uma das estratégias utilizadas para mobilizar a população, não só do Bairro América, mas também dos demais bairros foi a promoção de eventos com a parceria entre a paróquia e a polícia. Exemplo disso foi o chamado “Ato público contra a Violência no Brasil”, realizado em 28 de fevereiro de 2002, aniversário de 6 anos da Polícia Comunitária. Este fato se constitui num marco importante dentro do recorte temporal estabelecido para esta pesquisa, por representar o ápice da aliança entre Igreja e Estado na história do bairro, pois se configurou num momento em que as principais autoridades governamentais e policiais estavam presentes juntamente à Igreja, em função de uma iniciativa comum.

Texto elaborado a partir da pesquisa de Váleira Maria Santana Oliveira  da Universidade Federal de Sergipe. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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